quinta-feira, 30 de abril de 2009

A resposta à pergunta que todos me fazem


"Mas porque é que não voltas a Portugal antes do fim do teu Erasmus?"

Ora bem, para começar, há muitos sítios onde nunca fui e gostava de ir. Sardenha, Torino... assim sendo, para quê gastar tempo e dinheiro a ir ao país onde, à partida, vou viver o resto da minha vida?

Depois, todas as pessoas que têm passado tempo no seu país têm perdido coisas daqui, e eu própria perdi ao ir em Novembro.

Mais importante que tudo isso é que Erasmus para mim é bem mais do que ir viver para o estrangeiro e ir a umas festarolas. É também uma experiência de auto-conhecimento, e isso na minha perspectiva comporta também isolamento. Acho que se deve criar um certo afastamento das pessoas, das coisas e dos sítios de origem para que a experiência funcione em pleno. Acho que só assim se consegue aproveitar cá.

Se tenho saudades do meu gato? Morro de vontade de o apertar. Se tenho pena de não ver as minhas sobrinhas gémeas crescerem? Claro que sim. Mas fora isso, as pessoas que me são mais próximas vieram quase todas cá, as restantes pude ver no Natal, e bolas, daqui a 3 meses estou em Portugal, o que é que são 3 meses?!...

domingo, 26 de abril de 2009

A coisa mais parecida com uma tuna que por aqui encontrei

Quinta-feira passada, já a regressar a casa tarde e a más horas, deparo-me com um grupo de cerca de 10 pessoas, vestidas de forma estranha, a cantarem nas ruínas romanas ali da Porta a Lucca, mesmo junto à minha casa.

Fiquei a olhar, a olhar, até que me convidaram a descer e ir ter com eles. Enquanto os restantes continuavam a cantar e a dançar, duas raparigas muito simpáticas - Fabianna e Madalena - explicaram-me do que se tratava aquilo. Já no fim, e perante o meu ar espantado, disseram "isto é mais ou menos como uma coisa que há em Espanha, que se chama Tuna", e aí fiquei super entusiasmada, só veio confirmar as minhas expectativas :)

Contudo, existem bastantes diferenças em relação às nossas tunas.
Estes grupos chamam-se Goliardi, e têm grande tradição histórica. Segundo percebi, na Idade Média os Goliardi eram intelectuais vagabundos. Nessa linha, surgiu no século XII um filósofo muito idolatrado por eles, de nome Abelardo, que criou o conceito de "Goliardia", que valoriza alguns prazeres terrenos: o espírito livre, o amor, a companhia, a música, a dança, o vinho, adorando os deuses Baco, Tabacco e Vénus.



O que este grupo de estudantes tenta no fundo fazer é manter a tradição, cantando sátiras ao ar livre. Criticam fortemente a igreja, o Vaticano e o Papa, que vêem como hipócrita e como exponente de uma hierarquia organizada sobre o dinheiro.

A Goliardia é dividida em Ordens, com diferentes histórias e tradições. Pelo que percebi, cada cidade italiana tem uma ordem, e cada uma dessas Ordens está organizada de maneira hierárquica, tendo como orgão supremo o "Capo-Ordine" (o "Capo-Ordine" de Pisa é o rapaz que toca viola na fotografia anterior). A ordem de Pisa chama-se S.A.V.O.T. - Sovranus ac venerabilis Ordo Torrionis.

Usam estes trajes meio estranhos, e na cabeça este tricórnio ("feluca"), que em algumas cidades é baptizado no momento da entrada, mas que aqui em Pisa é mesmo cortado na ponta (cerca de 4 cm). A cor da "feluca" depende do curso do estudante - no meu caso seria azul escuro. Usam também uma espécie de emblemas ("bolli"), que mostra a sua recente ou não entrada no grupo, já que por cada ano de frequência se acrescenta um emblema.



O facto de esta ordem de Pisa tocar naquele sítio todas as quintas-feiras, também não é por acaso. Consta que ao lado da Porta a Lucca em tempos havia a Porta Parlascio, que também tem uma relação com a Goliardia (inclusivamente as cruzes que eles trazem ao pescoço dizem Parlascio).

Fiquei muito entusiasmada porque fez-me preencher um bocadinho do vazio que sinto com a falta da minha querida tuna, mas pelo que outros italianos já me disseram, eles cá não são muito bem vistos, e usam a ironia e a paródia para criticar gratuitamente muita coisa.

Ainda assim diverti-me, cantei, dancei, e na próxima quinta-feira lá voltarei.







(A música que filmei é em espanhol, mas dá para perceber mais ou menos o género)

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Novo flatmate

Não sei se cheguei a dizer aqui, mas os espanhóis cá de casa mudaram-se. Arranjaram uma casa mais barata, com jardim e barbecue, então lá ficámos sem eles.

Mas nem por isso deixamos de trocar mensagens todos os dias, e até estabelecemos um jantar semanal, alternando em casa de uns e de outros.

Nesta altura já é difícil arranjar alguém que precise de casa, e para mim seria uma pena porque gosto de viver numa casa cheia de gente. Mas felizmente o Fabrizio - italiano do ESN - quer voltar a morar em Pisa (tem estado em Ivrea), e vai ficar com o quarto. A senhoria prescindiu de fazer do quarto um duplo, e assim sendo, ele vem mesmo.Tem piada porque foi das primeiras pessoas que conheci quando cá cheguei, inclusivamente mesmo sem o conhecer já trazia o número dele, que a Mónica me tinha dado para se precisasse de alguma coisa.



Muda-se hoje, Sábado.

Fitas


Só para informar os interessados que finalmente acabei a dura missão que é escrever fitas.
Elas estão agora a caminho de Portugal e estarão disponíveis a partir da próxima semana na Associação de Estudantes da FDL.
Beijinhos e por favor não me falem mais em fitas nos próximos tempos que estou com elas pelos cabelos!

terça-feira, 21 de abril de 2009

Ando viciada nesta música...





...mal de mim se não andasse, já que ela passa noite e dia na rádio e tv...

sábado, 18 de abril de 2009

Tanti auguri a me!

Fiz 23 anos dia 1 de Abril - “Il primo aprile è il giorno degli scherzi però questo non è un scherzo”.

À meia-noite estava num bar de Salsa, e a Vanessa, que tinha vindo cá para os meus anos, lembrou-se de pedir em segredo à minha professora que cantasse ao microfone os parabéns. E assim foi. Contudo, à meia-noite eu comecei a receber telefonemas de parabéns, pelo que saí do bar para ouvir melhor. Consta que começaram a cantar os parabéns sem mim lá… até pararem e dizerem ao microfone: “Filipa, onde estás? Não te escondas!” … ooops!

No dia seguinte decidi organizar uma festa de anos cá em casa.



Primeiro, jantar para um grupo mais restrito (éramos 14), e de seguida festa. Massa com molho de salmão e sangria era o menu (grazie mille per l’aiuto, Van!). De sobremesa, bolo de chocolate. Cantaram-me os parabéns nas 6 línguas presentes, nunca mais podia soprar as velas! Gostei do jantar, estavam todos bem-dispostos. Mais tarde, começou a chegar imensa gente, e a casa ficou cheia, como de costume.







Colei as velas dos 23 anos numa folha A4 onde os convidados foram deixando a sua dedicatória.


Estragos: apenas esta cadeira partida…


Ao contrário do que estava à espera, acabei por receber imensos presentes:

A Domonique (inglesa que vive comigo e que só me dizia “ I’m so excited about your party!”), comprou-me imensos balões que encheu e espalhou por toda a casa, bem como aquelas coisinhas de festa que se sopram e apitam (não consigo descrever melhor, lol). Ofereceu-me também este lenço trazido Paris, que acabei por usar o resto da noite, adoro-o!

O Josef (austríaco que vive comigo), para além de me fazer o almocinho nesse dia, ofereceu-me uma garrafa de Limoncello com dedicatória;

A Alba, Anna, Victor e Daniel (espanhóis) ofereceram-me uns brincos e uma pulseira;

A Solgunn (norueguesa) fez-me uma tarte de espinafres e courgette para ajudar ao jantar e trouxe-me balões a dizer “Buon Compleanno”;

A Alessandra e Joanna (polacas) trouxeram-me um sinal de trânsito roubado que adorei e vou pendurar na parede;


O Martin (eslovaco) deu-me uma rosa vermelha;

O Salvo (italiano do ESN) ofereceu-me uma garrafa de Espumante com dedicatória (“Alla più bella e dolce Erasmus. Tanti Auguri Filipa”);

Os 5 rapazes portugueses ofereceram-me… bem, nem vou comentar… grrrrr odeio-vos! :P

A Vanessa ofereceu-me um calendário 2010 com datas por ela assinaladas, dedicatória e uma das minhas pinturas preferidas;

O Alessandro e Guillermo (italianos) trouxeram-me Vodka Pesca;
E aqui chegamos aos dois presentes que mais me emocionaram:

- Uma agenda vinda de Portugal, feita pelas minhas 4 amigas Filipa, Sarita, Sofia e Rituxa. Muito muito gira, começa a 1 de Abril de 2009 e acaba a 1 de Abril de 2010. Tem dezenas de fotografias nossas coladas, assinalando os nossos aniversários, bem como os dos meus pais, avó e sobrinhas gémeas (com fotografias deles nesses dias), a data de coisas que se passaram num determinado dia em anos passados (como “remember: dia em que nos conhecemos”), bem como acontecimentos que acontecerão no futuro. Também refere dias festivos, tais como o dia da criança, da mãe, dia de Páscoa, e ainda o início das diferentes estações do ano, com recortes de revistas, postais… todas as folhas estão super preenchidas! Consta que demoraram mais de 10 horas a fazer, e até andaram a falar com os meus pais para saber datas importantes, amei!




- E este vídeo, feito pela minha ex-co-inquilina Inês, que ela pôs à meia-noite dos meus anos no Youtube e me telefonou a dizer para ir ver. Claro que me fez chorar imenso e ficar ainda com mais saudades. Não vão perceber metade das coisas que estão escritas porque são tudo histórias nossas, mas ainda assim acho que dá para arrepiar.









Concluindo: fazer anos cá recomenda-se! Um aniversário para não esquecer :)

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Finalmente uma pausa para respirar!

Parece estranho, mas já tenho saudades da rotina. De passar tempo calmamente em casa, de ficar semanas e semanas a desfrutar Pisa, de ter tempo para tudo, e até de ir às aulas.

Isto porque desde 4 de Março que não tenho sossego. Passo a resumir as minhas últimas semanas:

Primeiro, fui ao sul de Itália, numa viagem que já estava combinada há tempos, mas que foi gravemente afectada pelas intempéries: Pompeia e Nápoles com chuva e neve constantes não estavam nas nossas expectativas, o que se revelou na nossa roupa inadequada, que acabava por andar sempre ensopada. A caminhada pela Costa Amalfitana ficou com isto arruinada. A suposta melhor pizza do mundo da Da Michele em Nápoles também ficou na minha opinião a dever muito a esse título. Não nos foi no entanto indiferente a mentalidade e postura das pessoas do Sul, tão diferente das que estamos habituadas cá em cima. A desorganização e o caos reinam ali, mas todos nós conseguimos apreender o quão especial é aquela zona.

Mal regressei, chegou a Vanessa, e dois dias depois seguimos para a sua casa em Génova, onde nos encontrámos com a Sofia, Filipa e Luciano. Com eles estive em Génova, Cinque Terre, e depois vieram também conhecer Pisa.






Entretanto ainda voltou cá a Vanessa, acompanhada de 5 amigos de Génova para um discotreno. Contudo, o tempo foi mal controlado e… perdemos o comboio. Felizmente conseguimos salvar a noite porque os levei a sítios que gostaram imenso. O meu quarto nunca tinha estado tão cheio – éramos 7 a dormir! Eles não perderam as esperanças de participar num discotreno, e ainda hoje me pediram para os avisar do próximo, gracejando que da próxima vez jantamos logo na estação!
Apenas três dias depois de eles irem embora, era tempo de rumar a Amsterdam, já que mais uma vez com as promoções da Ryanair conseguimos viagem de ida e volta por apenas 20€. Lá fomos então passar 5 diazinhos à Holanda, sendo que, tal como na viagem ao Sul, eu era a única rapariga. Casa da Anne Frank, Rijksmuseum, Museu Van Gogh, entre outros, e de noite, alguns passeios pelas partes mais boémias da cidade. Hostel recomendadíssimo: Bob’s Youth Hostel.





Mal regressei, foram os meus anos (que falarei num post à parte), e por isso lá voltou a minha Vanessinha de Génova. Dois dias depois chegaram também a Marta, Lena, Stella e Patrícia. Cinco amigas cá em casa já é o bastante para fazer muita confusão, e adicionando a isso o facto de que elas vinham para arrasar, torna-se indescritível a quantidade de histórias que se passaram nesses dias. Regra número 1: obrigatório andar dia e noite de óculos escuros.






Meia noite dos 28 anos da Lena…


No mesmo dia em que estas loucas deixaram Pisa, apareceram os meus pais e avó Lili, que me fizeram uma grande surpresa, aparecendo antes da hora combinada, tocando simplesmente à porta, ao que eu pensei “não estou à espera de ninguém, só se alguém se esqueceu das chaves”. Depois fez-se um jantar cá em casa para eles e para os meus co-inquilinos que estavam, em que o Hugo cozinhou o seu célebre peixe.

Para além disso, em vez de ficarem num Hotel, para ficarem mais perto de mim, não se importaram de dormir cá em casa, num quarto que está livre. Como quer eu, quer os meus pais já conhecíamos as zonas principais de Itália, decidimos alugar um carro e ir explorar a costa do Adriático, não tão turística. Com esta viagem fiquei a conhecer muito muito bem o país em que estou (um total de 11 das 15 provincías existentes!). Com eles voltei a Cinque Terre (pela quarta vez…), a Lucca (que gosto tanto!) e a Florença. Depois começou então a descida da costa: fomos a Ravenna, Rimini, República de San Marino, Pesaro, Ancona, Sirolo, Loreto, Urbino e Parma. Até estranhei dormir num quarto só com uma pessoa, agora ando habituada a camaratas com 16 pessoas :P Foi muito bom tê-los cá para matar as saudades e ver que estão realmente bem.

Depois de os deixar no avião em Milão, desci até Génova onde fiquei uns dias em casa da Vanessa. Fomos à praia em Camogli, e tenho a dizer que ainda é mais giro do que as Cinque Terre!!

Reli o post e realmente já é “má-vida” a mais. Agora acabei de chegar a Pisa, quero respirar, assentar e finalmente começar a pensar em estudar! Estranhamente estou cansada de visitas e de viagens, quero ficar por aqui, e aproveitar a minha cidade que está linda com o regresso do bom tempo.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Sismo

Para os mais preocupados, que ligaram assustados, que enviaram mensagens de hi5, de Facebook, etc: Sim, está tudo bem :)

Foi lá mais para baixo, para os lados de Roma, eu estou mais a Norte.

Mas obrigada a todos pela preocupação :)