quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Palio di Siena

Depois de ouvir falar todo o ano sobre o Palio de Siena, e uma vez que tinha lá a Inês ruiva em Erasmus e os exames já tinham terminado, decidi ir espreitar este tão célebre evento.

Não imaginava eu é que o Palio tem uma imensidão de rígidas regras e tradições, e até um site oficial. Mas vou começar pelo princípio.

Numa definição muito redutiva pode dizer-se que o Palio é uma corrida de cavalos. E eu que não ligo nem a corridas, nem a cavalos, adorei, mas adorei mesmo o Palio.

Existe desde 1644 e faz-se duas vezes por ano em datas fixas: 2 de Julho e 16 de Agosto.

A cidade está dividida em 17 contradas que no Palio correm umas contra as outras. Contradas são pequenos estados (bairros), cada um com uma igreja e sede anexadas, onde se guardam os prémios, bandeiras, relíquias e roupas de Palios anteriores.


Todas as contradas têm nomes de animais, reais ou míticos. Como a casa da Inês se situava na contrada da Pantera, era essa a contrada pela qual nós estávamos a torcer.


Em cada Palio concorrem 10 das 17 contradas existentes, e essas 10 são escolhidas por sorteio. A corrida dá-se na Piazza del Campo, a principal e mais bonita praça de Siena. Os milhares de pessoas dispõem-se no centro e a pista de corrida é à volta. Os acessos à Piazza nesse dia, embora gratuitos, fazem-se só por duas ou três ruas, pois as restantes estão fechadas, e meia hora antes do início os acessos são mesmo fechados.

O evento é de tal forma conhecido, que não há janelinha que não esteja cheia, chegando esses lugares a custarem até 400€ e as pessoas a irem vestidas de gala.


O prémio atribuído é este palio com a imagem de Nossa Senhora, e é daí que vem o nome do evento.
A festa inicia-se com um desfile histórico das contradas já extintas, que fazem coreografias com os seus estandartes e exibem fatos alusivos ao animal que representam.


Eu acabei por assistir ao Palio com esta turminha de sicilianos que estudam em Siena já há uns anos, e assim tive o privilégio de perceber tudo porque eles me iam explicando as regras.


Ficámos por baixo da grande torre do relógio, já que segundo eles, ali a pista fazia uma curva a descer, ou seja, era uma zona de emoção porque normalmente os cavalos caem durante a corrida – um pouco sádico, eu sei.


Depois das contradas extintas acabarem o desfile à volta da Piazza del Campo, a pista esvazia-se e um silêncio absoluto invade toda a Piazza. Acreditem que arrepia sentir aqueles milhares de pessoas em silêncio à espera de ouvir a explosão que dará início à entrada das contradas concorrentes, que saem do Palácio Municipal para a pista, sendo sorteada ao microfone a ordem pela qual se agruparão.

O sorteio é feito em voz alta, e as contradas vão-se dispondo junto à linha de partida pela ordem anunciada. A décima contrada a ser anunciada vai-se posicionar atrás das outras nove, vai cavalgar em círculos contínuos até passar por entre as restantes no momento em que achar oportuno, ou seja, as outras nove contradas devem estar alinhadas, e o cavalo da décima passa por elas dando início à partida. Sucede porém que os cavalos, para terem um arranque rápido, não podem estar parados, portanto estão sempre em movimento, o que faz com que raramente estejam alinhados.

A décima contrada seleccionada foi a do Drago (dragão), e segundo as regras, pode demorar até ao anoitecer para que arranque. Caso a décima contrada não inicie a corrida até ao anoitecer, o Palio é adiado para o dia seguinte. De vez em quando, e uma vez que o Drago demorou imenso a arrancar, ordenavam que os cavalos andassem um bocado para descomprimir, retomando depois as posições iniciais.

Agora a parte feia da coisa: cada contrada recebe um nervo de boi que poderá usar para encorajar os cavalos ou dificultar a corrida dos adversários.

Surreal será dizer-vos que esperámos cerca de 1h10 para que o Drago passasse pelos restantes, sendo que nesse período houve dois falsos alarmes. Isto porquê? Porque se o Drago arranca, mas antes de ultrapassar todos, algum passa à frente, soa nova explosão, a prova é anulada, e todos os cavalos acabam de contornar a pista a passo, retomando os seus lugares na partida. É como se fosse um “fora de jogo”, e a cada vez que começava uma destas partidas, o público ficava eufórico, aos gritos pelas contradas por quem torciam, e era uma tristeza quando a partida era anulada com o soar de nova explosão.


A Raiuno que é sem dúvida um dos canais mais importantes da televisão italiana, estava a fazer a transmissão em directo e criticava o Drago de já ter tido várias oportunidades de começar, mas de facto só ao fim de uma hora e dez é que se deu a corrida válida.

Foi inacreditável a velocidade a que os cavalos passaram por nós, e num minuto e 15 segundos completaram as 3 voltas à pista, sendo que esta mede cerca de 1km. Assisti à partida com uma adrenalina que não esperava, pois ao tomar conhecimento das regras entrei mesmo no espírito da coisa.


Na verdade, quem ganha é o cavalo, pois mesmo que o jóquei caia pelo caminho, essa contrada vence. A contrada vencedora foi a Tartuca (tartaruga) e mal alcançou a meta, a pista foi invadida pelos adeptos, o jóquei agarrou o Palio, havendo também alguns desentendimentos entre contradas devido às grandes rivalidades: o povo “senensi” vive aquilo mesmo à séria e anseia o ano todo por aquele dia.



Os festejos continuaram noite fora no bairro da Tartuca, onde por uma janela era oferecido vinho.

As madames a tocarem o sino da igreja da Tartuca:


Um especial agradecimento à MayteSeisdedos” e à Laura, espanholas que acabaram por me dar dormida, devido a uns problemas com a senhoria da Inês.

Sem dúvida um dos meus "momentos Erasmus" e um evento que aconselho a todos aqueles que visitem Itália!

domingo, 20 de setembro de 2009

As vantagens de estudar no litoral

Descobri que a cidade que escolhi, para além de ser linda, está super bem situada.
Apenas a 15 minutos de Viareggio ou a 25 de Tirrenia et voilà, está-se na praia. E tenho descoberto também que aqui as beach partys são frequentes.

A primeira a que fui, CRODA, acontece duas vezes por ano em Viareggio: centenas de pessoas, muita música e pezinhos sempre descalços.

Mal acabou, disparou dentro do nosso grupo uma luta de areia inacreditável, tudo a rebolar pelo chão e a fugir aos ziguezagues por entre as pessoas, pois todos faziam fintas para que os outros caíssem e punham areia para dentro de roupas alheias. Acabada a guerra, e cheios de areia colada ao corpo, nada melhor do que um mergulho colectivo. E como eram raros os que tinham levado "costume da bagno" debaixo da roupa, ninguém teve cá vergonhas e foi tudo à água em lingerie.
Uma semana depois foi a festa de anos do Victor (espanhol que vivia em minha casa). A ideia era ir dormir para a praia, mas a sorte estava do nosso lado e por acaso havia uma festa no bar da praia combinada, ou seja houve música para a noite toda, muito mais gente e o dobro da animação. Muita dança intervalada por banhos de mar a cada 10 minutos (fazia mesmo calor) e por jogos de volley (mas sempre ao som da música, proibido era parar!)

BOOOOOOOOOMBA!


Houve ainda fogo de artifício vindo de um barco que por ali passava.
Para alguns foi até de manhã, voltaram só no 1º autocarro de regresso a Pisa, pelas 6h da manhã.

Estou completamente fã do Mar Mediterrâneo e das suas temperaturas, quando voltar ao Atlântico gelo!

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Vídeos

Antes de ir para Pisa, para além de ler coisas sobre a cidade, de questionar até à morte quem já lá tinha estado (pobre Pedro Mello!) e de procurar informações na net, vi vídeos no Youtube de anos anteriores.

Muito bom de ver que agora já lá estão vídeos da minha "geração" :)

Natal:




Pool Party em Siena:




Primeiro Discotreno:

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A página que está sempre aberta quando estou no computador

Não sei ao certo para que servirão, mas estas webcams colocadas em Pisa são um consolo para que quem está com saudades possa ver em directo imagens dos sítios que nos são queridos.

Com actualizações de 4 em 4 segundos podemos ver a Piazza Garbibaldi, a Ponte di Mezzo, os vários Lungarni, a Torre e todos os outro monumentos da Piazza del Duomo, etc. Ora dêem lá uma occhiata:

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Um ano depois

Hoje, 15 de Setembro de 2009, dia em que faz um ano que parti para Erasmus, decido que embora já tenham passado quase dois meses desde o meu regresso, continua a fazer sentido acabar o blogue e fechar este capítulo da minha vida.

Não posso dizer que tenham sido fáceis estes últimos meses desde que cheguei. As férias poderiam adivinhar tempos mais alegres, mas este ano não foi assim. Os primeiros dias tiveram a sua piada: rever amigos, sítios e vários luxos. Mas ao fim de pouquíssimo tempo começaram a faltar as rotinas e os costumes de lá. E o pior mesmo foi quando começaram a faltar as pessoas e as saudades apertaram talvez mais forte do que o normal por saber que muitas não será fácil de rever.

Ao passear pela rua parece-me ver imensas caras conhecidas. Fartei-me de ver a Greta, o Michele, o Chema, a Esther ... ainda hoje me parece vê-los. As músicas que marcaram aqueles meses tenho-as ouvido em loop, então no carro é sempre para cantar bem alto. As horas passadas no Facebook a falar com aqueles de quem me separei e a ver fotografias são bastantes. As leituras têm sido em italiano e bem tenho sido gozada pela minha mãe quando digo que "não me apetece ler português". Ainda na semana passada passei pela Fnac e trouxe mais uma obra italiana para casa, Italo Calvino desta feita. As vezes que dou um saltinho ao site da Ryanair na esperança de encontrar algum voo económico também já não se contam pelos dedos, quero voltar. Ainda liguei o meu telemóvel italiano umas quantas vezes, mas aos poucos e poucos foi deixando de tocar. Uma lágrima ou outra cai por vezes às escondidas, mas a maior parte das vezes fico só em silêncio perdida nas minhas memórias.

Os meus amigos de cá não procurei. Das vezes que saí à noite dei por mim a tentar descobrir algum italiano para trocar dois dedos de conversa, o que me deixa eufórica. Aos transeuntes pergunto como se vai para a Piazza Garibaldi. Já desisti de sair à noite, sinto que não me consigo divertir tanto como lá. Nunca consigo! E olhem que já tentei muitas vezes. Basta dar a música x ou y e vêm-me mil histórias à cabeça, involuntariamente começo a procurar a pessoa w ou z, com quem aquela música marcou um qualquer episódio, ainda que conscientemente saiba que essa pessoa não está ali.

Não acho que possa falar em depressão pós-Erasmus, mas com toda a certeza numa tristeza pós-Erasmus. Uns acham estúpido, outros compreendem. Uns comparam com as maiores barbaridades que já ouvi, outros reconhecem que "só quem fez é que percebe". Não é aqui que me apetece estar. Cheguei a sentir revolta, parece que andei um ano a "brincar às vidas": casa, sítios, rotinas e amigos que durante um ano tomei como meus e que de repente puff, desapareceram para sempre. Não é justo. Racionalmente vejo que foi uma grande oportunidade que me foi dada, mas emocionalmente sinto que não é justo, "para sempre" é muito tempo.

Com calma vou acabar o blogue, fazer mais uns 5 ou 6 posts de histórias que ainda ficaram por contar (alguns deles até já tinha esboçado), ainda que suponha que o meu público já dispersou.

Coincidência ou não, hoje que faz um ano da minha partida começo a ajudar no ESN Lisboa, num Barbecue Erasmus que vai haver no Técnico. Como li em algum lado, "It's a matter of keeping the Erasmus flame burning in the hope of artificially recreating a second 'golden age'"

Tudo isto na certeza porém de que hoje a frase que mais me apetece dizer é "Oh tempo volta para trás".