Hoje, 15 de Setembro de 2009, dia em que faz um ano que parti para Erasmus, decido que embora já tenham passado quase dois meses desde o meu regresso, continua a fazer sentido acabar o blogue e fechar este capítulo da minha vida.
Não posso dizer que tenham sido fáceis estes últimos meses desde que cheguei. As férias poderiam adivinhar tempos mais alegres, mas este ano não foi assim. Os primeiros dias tiveram a sua piada: rever amigos, sítios e vários luxos. Mas ao fim de pouquíssimo tempo começaram a faltar as rotinas e os costumes de lá. E o pior mesmo foi quando começaram a faltar as pessoas e as saudades apertaram talvez mais forte do que o normal por saber que muitas não será fácil de rever.
Ao passear pela rua parece-me ver imensas caras conhecidas. Fartei-me de ver a Greta, o Michele, o Chema, a Esther ... ainda hoje me parece vê-los. As músicas que marcaram aqueles meses tenho-as ouvido em loop, então no carro é sempre para cantar bem alto. As horas passadas no Facebook a falar com aqueles de quem me separei e a ver fotografias são bastantes. As leituras têm sido em italiano e bem tenho sido gozada pela minha mãe quando digo que "não me apetece ler português". Ainda na semana passada passei pela Fnac e trouxe mais uma obra italiana para casa, Italo Calvino desta feita. As vezes que dou um saltinho ao site da Ryanair na esperança de encontrar algum voo económico também já não se contam pelos dedos, quero voltar. Ainda liguei o meu telemóvel italiano umas quantas vezes, mas aos poucos e poucos foi deixando de tocar. Uma lágrima ou outra cai por vezes às escondidas, mas a maior parte das vezes fico só em silêncio perdida nas minhas memórias.
Os meus amigos de cá não procurei. Das vezes que saí à noite dei por mim a tentar descobrir algum italiano para trocar dois dedos de conversa, o que me deixa eufórica. Aos transeuntes pergunto como se vai para a Piazza Garibaldi. Já desisti de sair à noite, sinto que não me consigo divertir tanto como lá. Nunca consigo! E olhem que já tentei muitas vezes. Basta dar a música x ou y e vêm-me mil histórias à cabeça, involuntariamente começo a procurar a pessoa w ou z, com quem aquela música marcou um qualquer episódio, ainda que conscientemente saiba que essa pessoa não está ali.
Não acho que possa falar em depressão pós-Erasmus, mas com toda a certeza numa tristeza pós-Erasmus. Uns acham estúpido, outros compreendem. Uns comparam com as maiores barbaridades que já ouvi, outros reconhecem que "só quem fez é que percebe". Não é aqui que me apetece estar. Cheguei a sentir revolta, parece que andei um ano a "brincar às vidas": casa, sítios, rotinas e amigos que durante um ano tomei como meus e que de repente puff, desapareceram para sempre. Não é justo. Racionalmente vejo que foi uma grande oportunidade que me foi dada, mas emocionalmente sinto que não é justo, "para sempre" é muito tempo.
Com calma vou acabar o blogue, fazer mais uns 5 ou 6 posts de histórias que ainda ficaram por contar (alguns deles até já tinha esboçado), ainda que suponha que o meu público já dispersou.
Coincidência ou não, hoje que faz um ano da minha partida começo a ajudar no ESN Lisboa, num Barbecue Erasmus que vai haver no Técnico. Como li em algum lado, "It's a matter of keeping the Erasmus flame burning in the hope of artificially recreating a second 'golden age'"
Tudo isto na certeza porém de que hoje a frase que mais me apetece dizer é "Oh tempo volta para trás".
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3 comentários:
Percebo-te lindamente, pq eu tb estudei fora. Estive no Sul do Brasil e q saudades... mas aos poucos vais preenchendo o tempo com outras coisas e um dia.. tudo vão ser memórias que jamais irás esquecer.
boa sorte!
bem, Filipa, este post trouxe-me arrepios. Decidi por acaso vir cá espreitar o teu blog e deparei-me com este texto. Acredita que me comovi porque, de certa forma, já senti o mesmo e por vezes ainda sinto. Mas a verdade é mesmo essa, esses momentos, recordo-os com a maior ternura com que poderia recordar algum momento. Essas pessoas (que também contacto pelo facebook), ficarão para sempre na memória e no meu quarto, nos bilhetes pendurados na parede, etc.
Pensa que é um retornar a casa que irá ficar menos doloroso quando conseguires olhar para o futuro, fazeres projectos e, um dia, quando puderes, saires de casa dos pais com mais força porque viveste isso :)
beijinho e força!
Senti-me exactamente assim quando voltei. A verdade 'e que quem nao faz erasmus nao se apercebe o quanto custa voltar. Boa sorte ***
***
Moon
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