Fiquei um pouco reticente, porque sou muito apegada a ela (recorde-se que não me contentei com a primeira que vi, esperei um mês até que o senhor da loja pusesse na que eu tinha escolhido todas as mariquices que eu queria: cesto à frente, campainha do Winnie the Pooh, mudanças, descanso, luz e reflector). Mas o Victor (um dos espanhóis cá de casa) tinha cá uma amiga que veio cá passar uns dias, queria ir dar uma volta com ela, eu não ia sair de casa, por isso claro que emprestei.
No dia seguinte acordei e não vi a minha querida bicicleta estacionada no sítio do costume, nem no resto da rua... Liguei ao Victor, que me disse muito a medo "Houve um problema, roubaram-na ontem à noite, junto ao rio...Peço imensa desculpa, levaram a tua e deixaram a minha...a única coisa que posso fazer é arranjar-te outra". Fiquei passada, só dizia que se encontrasse o autor do delito ia haver sangue! Depois, já em casa ele mostrou-me o cadeado partido e tivemos alta discussão, eu a dizer que a tinha há dois meses e que nunca lhe tinha acontecido nada, que sobretudo já tinha um valor sentimental, apesar de não ser uma boa bicicleta, e que agora ia ser difícil encontrar outra com todos aqueles acessórios que eu gostava. O rapaz quase chorou.
À noite, cá em casa houve a festa dos 27 anos do Daniel, o outro espanhol cá de casa.
A meio da festa, o Victor vem ter comigo e diz para eu ir com ele lá abaixo. Fiquei logo desconfiada que tinha a ver com o assunto bicicleta, pensei "pronto, já arranjou outra para mim".
Mas não, era a MESMA BICICLETA, A MINHA BICICLETA! Fiquei histérica, e só lhe perguntava como é que tinha aparecido ao que ele me respondia "Magia, magia!"
Voltei para a festa radiante, e percebi que havia ali história, e que algum dos presentes estava associado ao roubo... como ninguém me contava a verdade, comecei a perguntar um a um "Foste tu que roubaste a minha bicicleta ontem à noite?", até que à segunda tentativa acertei!
E não é que foi a Rocio, uma espanhola do meu nível do italiano?! Ela só me pedia desculpa, que embora em Pisa seja normalíssimo (mesmo!) roubar bicicletas, ela nem sequer era apologista disso, inclusivamente a sua bicicleta tinha sido comprada!
Lá me contou a história todinha, que é surreal.
Então foi assim, ela mora longe do centro, e no dia anterior tinha ido sair, mas quis ir a pé. Contudo, às tantas da manhã já não quis regressar sozinha a pé, então os amigos disseram que lhe roubavam uma bicicleta num instante. Viram a minha, muito feminina, e foi a escolhida.
No dia seguinte, portanto ontem, ela estava convidada para a festa do Daniel, e como queria trazer uma garrafa de vinho para lhe oferecer, decidiu trazer a bicicleta do cestinho, e não a dela, que não tem cesto, portanto veio na minha bicicleta recém-roubada para a festa na minha casa, obviamente sem saber que eu era a dona.
Ao chegar, foi ao quarto do Victor, e viu o cadeado quebrado que lhe era familiar. Para além disso, o Victor queixou-se que estava muito triste porque pela primeira vez tinha pedido uma bicicleta emprestada, e tinha sido logo roubada, no dia anterior, junto ao rio.
Ela começou a juntar as pecinhas do puzzle, e pediu para ele ir ver se a dita bicicleta não era a que ela tinha roubado na noite anterior, e que estava lá em baixo.
E assim foi, eu pensava que nunca mais ia ver a minha querida bicicleta, mas afinal ela acabou por me vir parar à porta menos de 24h depois do roubo!
E como tudo está bem quando acaba bem, entre muitos "Mi dispiace Filipa, non sapevo che era tua", acabámos a rir do assunto, eu, a Rocio, e os dois espanhóis que comparticiparam o roubo!
Agora combinámos fazer uma marca nas nossas próprias bicicletas, para que entre nós Erasmus, elas não sejam roubadas!
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