segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A minha vida numa bicicleta


A primeira foi comprada num leilão, a segunda foi-me dada, e desde então é o meio de transporte que uso quase em exclusivo.

Para ir para a faculdade de manhã já atrasada (há coisas que não mudam), para ir para a aeróbica, para ir para a Salsa, para ir "aos gatos" :P, para ir ao supermercado e trazer as compras no cestinho, para voltar da discoteca aos ziguezagues (aos ciclistas não se faz o teste do balão, ahah), para ir aos correios, para ir até à Stazione, para ir até ao aeroporto apanhar um voo de madrugada quando não há outro transporte a funcionar, para ignorar os semáforos vermelhos e passar quando se quer, para fugir ao trânsito e evitar filas, a bicicleta é sem dúvida um dos elementos mais positivos que posso apontar em Pisa e uma das maiores diferenças em relação a Lisboa.
Dos novos aos velhos, toda a gente a usa, quando chove, com uma mão segura-se o guiador e com a outra o chapéu de chuva, e já aprendi também a andar de saia mantendo sempre a decência :P

Para levar alguém à boleia também serve, no início causa certos desiquilíbrios, mas garanto-vos, é só uma questão de prática (e é tão divertido!)!


É verdade que a coisa nem sempre corre muito bem, algumas quedas de vez em quando, mas nada de muito grave :P


O meu objectivo era até ao fim conseguir andar sem mãos, mas a qualidade das bicicletas de cá é tão mázita que os guiadores não se aguentam a direito sozinhos, pelo que esse objectivo não foi cumprido. Também queria trazê-la para Lisboa mas o excesso de bagagem já não mo permitiu. Mas não desisti da ideia, ainda hei-de ir lá buscá-la!

É bom para fazer exercício, é bom para ignorar as horas de ponta, é bom para encurtar distâncias, mas sobretudo é tão bom para o ambiente! Que qualidade de vida poder deslocar-me desta forma por toda a cidade.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O meu novo melhor amigo em Pisa

É verdade, já não andava sem ele, sob pena de ser comida pelas "zanzare". Parece que a Toscana é mesmo conhecida pela quantidade de mosquitos que tem, e com o entardecer, com o calor ou ao pé do rio acentuam-se ainda mais. O repelente passou assim a ser objecto indispensável na minha mala.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Sardegna

Mais uma promoção da Ryanair e lá fizemos Pisa-Alghero por 30€.

Partimos na madrugada de 12 de Julho, e desta vez o percurso até ao aeroporto foi feito a pé, mas garanto, mesmo com um jetpag às costas não custa nada.

A viagem estava em aberto: sabíamos que queríamos alugar um carro, usar o GPS e conhecer a costa Norte da Sardegna (achámos que em 5 dias era complicado ir a Cagliari, capital, muito a Sul) mas as paragens seriam ao improviso. Tinham-nos dado umas dicas de praias a não perder, mas à parte disso íamos meio à deriva, sem nenhuma dormida marcada sequer.

Aterrados em Alghero e chegados ao centro, dirigimo-nos ao Rent a Car ("Autonoleggio") mais económico que nos tinha sido recomendado. O dono, o Signore Sílvio, era daquelas pessoas que não primam propriamente pela simpatia, e aliás nem se percebe porque é que estão num ramo de contacto com o público. Lá nos alugou um Opel Corsa cinzento para 4 dias, que ficou cerca de 100€ a cada um. Eu fui eleita a condutora.


Decidimos guardar a maior viagem para o 1º dia: atravessar a ilha desde a costa Este ate à costa Oeste, para que nos fossemos reaproximando de Alghero (de onde apanharíamos o voo de regresso) ao longo dos dias.

O trabalho foi-nos sem dúvida facilitado pelo GPS, que aliás teve papel preponderante na nossa viagem: escolhemos a voz da "Paola", que supostamente falaria italiano, mas que quando se carregava OK avisava qualquer coisa como "Tem a certeza que quer instalar esta voz? Há problemas na sua configuração". Ou seja, o resultado foi uma misturada de línguas na mesma voz e os ataques de riso eram constantes. Frases como "reguou ao seu destino", "vire à dirita" ou "saia na tercha saída" eram recorrentes.

Assim, rapidamente passámos de 3 a 5 elementos na viagem: a mim, à Inês (que voltou para os meus 10 últimos dias) e ao Nuno, juntaram-se a Paola e o Silvinho (nome com que baptizámos o nosso carro).

No primeiro dia aproveitámos para conhecer duas ou três praias (Cala Ganone, Golfo de Orosei), e levámos logo com uma multinha de estacionamento de 40 euros por estacionarmos numa zona de stricce blu - quem é que ia adivinhar que a um DOMINGO se paga parquímetro?!

Nos muitos km que fiz nesse dia a atravessar a ilha fiquei muito impressionada porque contei 15 animais atropelados na estrada. 15 só num dia. Nota-se mesmo a diferença entre o norte e o sul de Itália. Secretamente implorei para que eu não atropelasse nenhum.

Acabámos a noite numa feira em San Teodoro.

Vagueámos por entre as barraquinhas, comprámos algumas coisas, e depois a Inês desafiou-me para passar num karaoke e cantar a nossa música. Maldita a hora, aconselho a que tapem os ouvidos ao ver o vídeo que se segue, está mesmo mauzito :P

(adoro o teu solo Inesita ahah).

Saídos do karaoke já eram horas de voltar ao Silvinho. O que nós não contávamos era que com o tardar da hora as barraquinhas estivessem já desmontadas e portanto a cidade completamente diferente. Duas horas à procura do carro foi o resultado e nem a Paola nos safou. Ninguém tinha fixado pontos de referência e já procurávamos era a Polícia para nos ajudar, tal era o desespero.

Esta é a foto de contentamento quando finalmente, depois de duas horas repito, demos com o carro.

Dormimos ali mesmo, dentro do Silvinho que acabou por servir todas as noites de cama e assim compensar o preço, concordando porém que o banco de trás seria rotativo para as dormidas.

Acordámos de manhã com o sol e fomos logo tomar o pequeno almoço numa praia ali ao lado.

Continuámos com este estilo de viagem no restantes dias, ou seja, acordar cedo, ser os primeiros a chegar à praia, na hora do calor pegar no carro e mudar para a praia seguinte, às vezes ver até três praias por dia, jantar bem (já que se estava a poupar na dormida) e depois dormir no Silvinho.


Depois de ver Capriccioli e a Costa Smeralda, chegou um dia em que quisemos conhecer o arquipélago da Madalena (onde era para ter sido a reunião do G8 em Julho, não fosse ter sido mudada para L'Aquilla). Achámos que a melhor maneira de ver todas aquelas ilhotas era fazer um cruzeiro. Assim, por 25€ com almoço incluído, apanhámos o barco logo de manhã para só regressar ao fim da tarde, passando na Isola Caprese, Spiaggia Rosa (que actualmente está vedada pois a areia vermelha que tem era levada pelos turistas), etc. Contudo, naquele cruzeiro tudo era estranho. Primeiro, este Zezé Camarinha achou-se no direito de ir tanguinha deitar-se na proa.
Depois, a quantidade de água que entrava era inacreditável, estávamos sempre salpicados. Mais, o guia parecia louco. Volta e meia ouviam-se ao microfone frases como "Massimoooooooo portami un capuccino!" ou "Masimooooooo vieni qui!". Para além disso achei uma vergonha que as explicações fossem em italiano, de certeza que os turistas que lá iam não perceberam nada. Parámos em algumas praias e o almocinho estava muito bom, servido pelo Massimo, mas a certa altura só queríamos que chegasse a hora do fim.
Digam lá que esta sereia não parece a Brooke na Lagoa Azul :P



Como as dormidas eram sempre no carro, nunca tomámos banho, excepto neste dia, em que tomámos o único banho de água doce da viagem... na rega de um relvado, enquanto cantávamos "Coisinha sexy, coisinha sexy, és demaisss!". Quem muito gostou de tal animação foram os condutores velhotes que por ali passaram entretanto.
Nesse dia íamos em direcção à Costa Paradiso mas passámos por uma praia em caminho que nos pareceu linda. Descemos, e acabámos por passar lá a noite. Foi a minha preferida: Spiaggia Liscia.


Entretanto as quantidades excessivas de sol já afectavam os meus companheiros... Aliás, a Inês apanhou um escaldão nos lábios e outro no couro cabeludo, alguém arranja sítios mais estranhos para apanhar escaldões?



Fomos acabar o dia naquela que foi a praia preferida deles, a Costa Paradiso.






Na última noite dormimos em frente à praia que nos faltava ver. Alguns cuidados pela manhã, como lavar os dentes na rega, ainda em pijama.

Stintino - La Pelosa é a imagem de marca da Sardegna, conhecida pela torre lá atrás.



Devolver o Silvinho ao Silvio, aproveitar para conhecer Alghero que ainda não estava visto, e ao fim do dia apanhar avião para Pisa.

O balanço é o seguinte: gostámos imenso daquelas paisagens paradisíacas mas todos sentimos que eram os nossos últimos dias de Erasmus e estávamos fora de Pisa, por isso deixo o conselho: não viagem nos últimos dias, fiquem a curtir a vossa cidade!

P.s.- Tudo bem que o mar da Sardegna é mais transparente, bonito, etc., mas que fique bem assente que o mar de Pisa (Mar Tirreno) é bem mais quente!!!

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Palio di Siena

Depois de ouvir falar todo o ano sobre o Palio de Siena, e uma vez que tinha lá a Inês ruiva em Erasmus e os exames já tinham terminado, decidi ir espreitar este tão célebre evento.

Não imaginava eu é que o Palio tem uma imensidão de rígidas regras e tradições, e até um site oficial. Mas vou começar pelo princípio.

Numa definição muito redutiva pode dizer-se que o Palio é uma corrida de cavalos. E eu que não ligo nem a corridas, nem a cavalos, adorei, mas adorei mesmo o Palio.

Existe desde 1644 e faz-se duas vezes por ano em datas fixas: 2 de Julho e 16 de Agosto.

A cidade está dividida em 17 contradas que no Palio correm umas contra as outras. Contradas são pequenos estados (bairros), cada um com uma igreja e sede anexadas, onde se guardam os prémios, bandeiras, relíquias e roupas de Palios anteriores.


Todas as contradas têm nomes de animais, reais ou míticos. Como a casa da Inês se situava na contrada da Pantera, era essa a contrada pela qual nós estávamos a torcer.


Em cada Palio concorrem 10 das 17 contradas existentes, e essas 10 são escolhidas por sorteio. A corrida dá-se na Piazza del Campo, a principal e mais bonita praça de Siena. Os milhares de pessoas dispõem-se no centro e a pista de corrida é à volta. Os acessos à Piazza nesse dia, embora gratuitos, fazem-se só por duas ou três ruas, pois as restantes estão fechadas, e meia hora antes do início os acessos são mesmo fechados.

O evento é de tal forma conhecido, que não há janelinha que não esteja cheia, chegando esses lugares a custarem até 400€ e as pessoas a irem vestidas de gala.


O prémio atribuído é este palio com a imagem de Nossa Senhora, e é daí que vem o nome do evento.
A festa inicia-se com um desfile histórico das contradas já extintas, que fazem coreografias com os seus estandartes e exibem fatos alusivos ao animal que representam.


Eu acabei por assistir ao Palio com esta turminha de sicilianos que estudam em Siena já há uns anos, e assim tive o privilégio de perceber tudo porque eles me iam explicando as regras.


Ficámos por baixo da grande torre do relógio, já que segundo eles, ali a pista fazia uma curva a descer, ou seja, era uma zona de emoção porque normalmente os cavalos caem durante a corrida – um pouco sádico, eu sei.


Depois das contradas extintas acabarem o desfile à volta da Piazza del Campo, a pista esvazia-se e um silêncio absoluto invade toda a Piazza. Acreditem que arrepia sentir aqueles milhares de pessoas em silêncio à espera de ouvir a explosão que dará início à entrada das contradas concorrentes, que saem do Palácio Municipal para a pista, sendo sorteada ao microfone a ordem pela qual se agruparão.

O sorteio é feito em voz alta, e as contradas vão-se dispondo junto à linha de partida pela ordem anunciada. A décima contrada a ser anunciada vai-se posicionar atrás das outras nove, vai cavalgar em círculos contínuos até passar por entre as restantes no momento em que achar oportuno, ou seja, as outras nove contradas devem estar alinhadas, e o cavalo da décima passa por elas dando início à partida. Sucede porém que os cavalos, para terem um arranque rápido, não podem estar parados, portanto estão sempre em movimento, o que faz com que raramente estejam alinhados.

A décima contrada seleccionada foi a do Drago (dragão), e segundo as regras, pode demorar até ao anoitecer para que arranque. Caso a décima contrada não inicie a corrida até ao anoitecer, o Palio é adiado para o dia seguinte. De vez em quando, e uma vez que o Drago demorou imenso a arrancar, ordenavam que os cavalos andassem um bocado para descomprimir, retomando depois as posições iniciais.

Agora a parte feia da coisa: cada contrada recebe um nervo de boi que poderá usar para encorajar os cavalos ou dificultar a corrida dos adversários.

Surreal será dizer-vos que esperámos cerca de 1h10 para que o Drago passasse pelos restantes, sendo que nesse período houve dois falsos alarmes. Isto porquê? Porque se o Drago arranca, mas antes de ultrapassar todos, algum passa à frente, soa nova explosão, a prova é anulada, e todos os cavalos acabam de contornar a pista a passo, retomando os seus lugares na partida. É como se fosse um “fora de jogo”, e a cada vez que começava uma destas partidas, o público ficava eufórico, aos gritos pelas contradas por quem torciam, e era uma tristeza quando a partida era anulada com o soar de nova explosão.


A Raiuno que é sem dúvida um dos canais mais importantes da televisão italiana, estava a fazer a transmissão em directo e criticava o Drago de já ter tido várias oportunidades de começar, mas de facto só ao fim de uma hora e dez é que se deu a corrida válida.

Foi inacreditável a velocidade a que os cavalos passaram por nós, e num minuto e 15 segundos completaram as 3 voltas à pista, sendo que esta mede cerca de 1km. Assisti à partida com uma adrenalina que não esperava, pois ao tomar conhecimento das regras entrei mesmo no espírito da coisa.


Na verdade, quem ganha é o cavalo, pois mesmo que o jóquei caia pelo caminho, essa contrada vence. A contrada vencedora foi a Tartuca (tartaruga) e mal alcançou a meta, a pista foi invadida pelos adeptos, o jóquei agarrou o Palio, havendo também alguns desentendimentos entre contradas devido às grandes rivalidades: o povo “senensi” vive aquilo mesmo à séria e anseia o ano todo por aquele dia.



Os festejos continuaram noite fora no bairro da Tartuca, onde por uma janela era oferecido vinho.

As madames a tocarem o sino da igreja da Tartuca:


Um especial agradecimento à MayteSeisdedos” e à Laura, espanholas que acabaram por me dar dormida, devido a uns problemas com a senhoria da Inês.

Sem dúvida um dos meus "momentos Erasmus" e um evento que aconselho a todos aqueles que visitem Itália!